EDITH CECHELLA
- neta de Luigi Cecchella -
Sobrenomes nesta página: ACHUTTI, CECHELLA,CECCHELLA, DIAS, ISAIA, KOEHN.
Outros textos sobre EDITH CECHELLA, escritos por sua filha Suzana e suas sobrinhas Lia e Helena Cechella Achutti e Lúcia Dias Cechella.
Um momento de recordação: minha mãe Edith e meu pai Salvador.
Suzana Isaia Pignataro.
Uma das minhas gratas lembranças, de criança e de jovem, eram nossos aniversários festejados em família.
Os preparativos eram misteriosos, nunca se sabia o que iria sair das mãos hábeis de nossa mãe, quando a nossa participação era solicitada: descascar amendoim, ralar côco, quebrar nozes, desfiar galinha, “pelar” amêndoa...
Era uma alegria aquela expectativa. A mãe na cozinha, e nós, espreitando qual seria o sortudo que raparia a panela ou lamberia a colher.
Lembro-me que a mãe levantava cedo para dar conta de tudo. E quando voltávamos da escola, “espiar as maravilhas” era um deleite. Havia pratos grandes, redondos e cheios, tapados com panos brancos por cima dos armários e balcões e outros estrategicamente escondidos para não serem “assaltados” pelos mais gulosos.
Horas antes da chegada dos convidados e nunca faltavam (os avós, tios e tias, primas e primos), as cadeiras eram ordenadas, ocupando os espaços da sala e da copa, todos faziam alguma coisa, e a mãe coordenava tudo.
Quase sempre o bolo era de dois andares, redondo, coberto com glacê branco e com um enfeite, que algumas vezes o pai trazia de Porto Alegre. E para um dos meus aniversários, ele trouxe um “pombal”. Como era lindo! Com as pombinhas dentro e fora da casinha!
Quando fiz dez anos, a festa foi à tarde, algo de inusitado aconteceu, o pai saiu da loja e veio filmar o acontecimento. E ainda mais, trouxe do Rio um vestido especial com babados e ninhos de passarinhos pintados na barra da saia. O vestido ficou famoso entre a criançada, pela originalidade e o prodígio de “espichar” comigo.
Nesses dias de festa, a casa ficava cheia, era gente por todos os lados e a criançada no pátio brincando, sendo que os balanços eram uma atração. Os jovens formavam grupinhos, entre cochichos e risadas.
A mãe sempre estava de “olho” em nós, nada lhe passava desapercebido. Muitas vezes éramos convocados para servirmos de garçons, pois naquela época os pratos com os “comes” eram passados entre os convidados.
Algumas vezes, o pai organizava uma hora de arte e os artistas, trêmulos e nervosos, apresentavam suas habilidades no piano, no violino e na gaita. Ele, por sua vez, brindava com declamações de poesias. Recordo-me do “Pequenino Morto”, quase todo mundo chorava.
O pai tinha um lado artístico bem acentuado, primava pelo belo e harmonia, gostava de teatro, pinturas, cinema e cultivo de flores. Tinha muito carinho pelas crianças: os meninos eram os “espinhos” e as meninas, as “rosinhas”.
Por isso é possível entender porque tínhamos de escolher “espontaneamente” um instrumento musical para estudarmos. Aqui fica registrada a recordação da minha mãe Edith, sempre dedicada, organizada e incansável; e do pai Salvador que, apesar do trabalho, tinha sempre uma parcela de participação, ou de uma especial atenção nos acontecimentos.
Hoje, muitas coisas mudaram... Esses encantos desapareceram... mas, na memória estão registrados, vivos como um filme, que é agradável recordar e reviver.
Tia Edith, acolhedora!
Lia Maria e Maria Helena Cechella Achutti.
Como é bom ter alguém que nos acolhe! Alguém que abre a porta de sua casa e nos recebe com alegria!
Foi assim tia Edith desde nossa infância: acolhedora na chegada, acolhedora também na saída. Acabada a visita, sempre teve o cuidado de nos acompanhar até a porta e, como se não bastasse, até o elevador! Mais uma palavrinha... algo o que acrescentar nesta curta distância!
Se formos rever o pequeno álbum de fotografias que pertenceu a nossos avós, vamos encontrar os primeiros registros dessa convivência querida com tia Edith, irmã de nossa mãe. Nelas, encontramos, entre outras, a fotografia de um passeio pelos arredores da casa dos nossos avós (foto), onde se encontram Edith e Salvador, noivos ou recentemente casados, vovô Luiz, mamãe-Luiza e nós pequeninas, e do lado de lá, papai-Bortholo atrás da máquina fotográfica!
Da esq. p/ dir.: Luiza Cechella Achutti com a filha Helena, Salvador Isaia e Edith, Luiz Cechella.
No patinete: Lia, empurrada pelo menino Ary (irmão caçula de Luiza e Edith).
Foto: Bortholo Achutti.
Da esq. p/ dir.: Luiz Cechella, o menino Ary Cechella, Salvador e Edith
Sentada: Luiza Cechella Achutti, com suas duas filhas (Lia e Helena).
Foto: Bortholo Achutti.Noutra, quando Yolanda, sua primeira filha completou seu primeiro aniversário, junto à mesa festiva, lá estávamos nós entre outras crianças. Curioso ver, algumas com os olhos fechados, outras com os olhos arregalados! Na época, no instante de fotografar era provocada uma pequena explosão pela queima de magnésio para haver adequada iluminação de interior.
Fomos crescendo, tia Edith com os filhos menores ... passamos, então, a senti-la antes como uma amiga, companheira quase da nossa idade, com quem revelávamos gostos e preferências, trocávamos experiências: livros lidos, ...trabalhos de mão como crochê, esmirna, ...viagens realizadas...
Sua admiração pela natureza e seus sentimentos revelaram-se quando, ao realizarmos viagem a Paris, sugeriu, entre tantas coisas a serem visitadas, especialmente que conhecêssemos o Roserée de Bagatelle no Bois de Boulogne que ela tanto gostara. Ao voltar, escolhemos trazer-lhe como lembrança chá-de-bergamota, fragrância apreciada por ela; se tivéssemos encontrado margaridas, flores de sua predileção, por certo teríamos trazido!
Chegou o tempo em que era o assunto preferido entre nós: nossos bisavós e nossos avós - seus pais... Assunto este que, prazerosamente, aqui estamos de novo, tentando reviver!
Edith, visitando com seus filhos a irmã Luiza. Da esquerda para a direita: Edith com a pequena Inês, Guido
Salvador com o livro, Aloyzio, Luiza, Geraldo e Helena (em pé), Lia, Yolanda e Suzana, 1946 (Foto: Bortholo Achutti).
As margaridas de Tia Edith.
Lúcia Marina Dias Cechella
Contaram-me serem as margaridas suas flores prediletas. Vestida de noiva, sua bela silhueta é enfeitada por profusão dessas flores simples e belas. Escolheu-as para enfeitar seu casamento.
Margaridas, flores do bem-me-quer, do mal-me-quer...
Vivendo, a vida está a desfolheá-las, alternando alegrias, dificuldades, realizações, em seu dia-a-dia, de
mulher-companheira,
mãe-presença,
dona de casa dedicada,
avó carinho,
tia acolhedora,
sóbria senhora.De nosso convívio, se repetem as pétalas do bem-querer na lembrança de sua dedicação ao seu irmão Nilo, meu sogro, dos chás em nossa casa e, dos gostosos cafés da tarde em sua casa. Do incentivo ao meu gosto por trabalhos manuais, presenteando-me com figurinos com modelo e molde, para crianças. De suas palavras e atitudes seguras.
Ah! As margaridas... Ela, acredito, não se permitiu desfolheá-las. São mais bonitas quando inteiras, enigmáticas...
Tio Salvador
Lúcia Marina Dias Cechella
Falar sobre Salvador, homem-empreendedor, é bem mais fácil, há registros, as obras mostram. A cidade o homenageou, denominando “SALVADOR ISAIA”, o seu Calçadão.
Quero dizer do homem sensível, gentil, afetuoso que se manifestava por entre suas atitudes.
Cultivou amigos e flores. Amparou idosos. Acariciou crianças.
Amou a arte, o belo...
Entre tantas, uma de minhas historinhas-lembranças.
Certa vez, em uma de suas lojas - Eny Boutique – encontrei-o, vestido impecavelmente, como de costume. Recebeu-me carinhosamente, conversamos por algum tempo. Ao retirar-se – para que, com liberdade, eu escolhesse os sapatos que procurava – tomou de um vaso, repleto de rosas, um lindo botão e ofereceu-me, deixando, na delicadeza de seu gesto, transparecer sua alma...
O então gerente da loja aproximou-se de mim e disse:
- Esse gesto não é habitual.
- A senhora deve ser muito especial. Ele gosta de ver suas flores no vaso, intocáveis.Foi um dia diferente que se perpetua pela terna lembrança,tantos anos passados.
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